segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

O Comunismo, de Plínio Salgado

 

O COMUNISMO

Plínio Salgado

Temos de encarar o Comunismo, mais sob o aspecto psicológico do que econômico. É certo que Karl Marx colocou o problema social nos quadros da Economia, aceitando as doutrinas dos fisiocratas e dos liberais, principalmente as de Adam Smith e de Ricardo, das quais se dizia continuador. Mas o fundamento do marxismo está no materialismo histórico, o qual, adaptado à dinâmica hegeliana, produziu o materialismo dialético. Nessa confluência do materialismo inglês com o idealismo alemão se encontra a fonte da mística revolucionária dos marxistas. Posteriormente, Lenine — grande gênio político do começo deste século — inovou o marxismo, adotando métodos que, no fundo, se contrapunham ao determinismo materialista, flagrante no pensamento da economia liberal e patente na própria dialética de Hegel, que não é mais do que a aplicação do determinismo ao processo de formação das ideias, porquanto os métodos leninescos consagravam o livre-arbítrio, ou a interferência do Homem nos fatos, para a precipitação do ritmo da destruição do capitalismo.

 

Não se pode negar que a crítica de Marx ao sistema capitalista é absolutamente correta. O que se não pode aceitar são as conclusões do comunismo, rigorosamente subordinado aos próprios conceitos do capitalismo, que também é uma forma de materialismo, revestido dos aspectos do agnosticismo utilitarista ou pragmatista.

 

Para combatermos o capitalismo, não podemos aceitar suas teses fundamentais, sua amoralidade, que o comunismo aceita. Temos de nos opor ao espírito burguês com a bandeira do espiritualismo. Nestas condições, cumpre-nos lutar contra o comunismo como uma das formas do capitalismo, pois o seu objetivo não é outro senão substituir a plutocracia pela burocracia, ambas detendo os meios de produção e escravizando os homens.

 

Nosso combate ao comunismo não deve, entretanto, se efetivar por meio de violência de medidas policiais. Existe um estado psicológico nos comunistas, que deve ser considerado como expressão de um conceito de vida. É uma enfermidade do espírito. Consequentemente, devemo-nos esforçar por curá-la, opondo doutrina contra doutrina. Uma ideia só se combate com outra ideia. Em nome de que a burguesia capitalista pretende combater o comunismo? Que oferece ela às massas populares, senão compensações materiais, quando os homens estão desesperados pela ausência do Espírito? Não existem pobres anticomunistas e ricos comunistas?

 

O Integralismo vai às raízes profundas do mal, que se encontram no mundo capitalista, no seu materialismo, na sua preocupação exclusiva dos lucros, na sua voluptuosa ostentação. Essa mentalidade de azinhavre é até vanguardeira de nossas relações diplomáticas com a Rússia Soviética e estipendia organizações comunistas a fim de que propugnem por um falso nacionalismo, que favorece certos trustes contra outros, em prejuízo do povo e da nossa nação.

 

Combater o comunismo sem combater o capitalismo é ferir apenas uma das faces do problema. Se o comunismo é a supressão da liberdade e da dignidade humanas, o capitalismo é o caminho que a ele nos leva. Somente uma concepção espiritualista e cristã da vida pode nos fazer paladinos na luta contra o monstro de duas cabeças, que se serve de nossas debilidades dominando um pelas negociatas desmoralizadoras e o outro pela infiltração nas classes intelectuais, nos partidos e nos governos, como é notório.

 

Trecho de Discurso proferido por Plínio Salgado na Câmara Federal, em Brasília, em 06 de Abril de 1962.

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