O COMUNISMO
Plínio Salgado
Temos de encarar o Comunismo,
mais sob o aspecto psicológico do que econômico. É certo que Karl Marx colocou
o problema social nos quadros da Economia, aceitando as doutrinas dos
fisiocratas e dos liberais, principalmente as de Adam Smith e de Ricardo, das
quais se dizia continuador. Mas o fundamento do marxismo está no materialismo
histórico, o qual, adaptado à dinâmica hegeliana, produziu o materialismo
dialético. Nessa confluência do materialismo inglês com o idealismo alemão se
encontra a fonte da mística revolucionária dos marxistas. Posteriormente, Lenine
— grande gênio político do começo deste século — inovou o marxismo, adotando
métodos que, no fundo, se contrapunham ao determinismo materialista, flagrante
no pensamento da economia liberal e patente na própria dialética de Hegel, que
não é mais do que a aplicação do determinismo ao processo de formação das
ideias, porquanto os métodos leninescos consagravam o livre-arbítrio, ou a
interferência do Homem nos fatos, para a precipitação do ritmo da destruição do
capitalismo.
Não se pode negar que a crítica
de Marx ao sistema capitalista é absolutamente correta. O que se não pode
aceitar são as conclusões do comunismo, rigorosamente subordinado aos próprios
conceitos do capitalismo, que também é uma forma de materialismo, revestido dos
aspectos do agnosticismo utilitarista ou pragmatista.
Para combatermos o capitalismo,
não podemos aceitar suas teses fundamentais, sua amoralidade, que o comunismo
aceita. Temos de nos opor ao espírito burguês com a bandeira do espiritualismo.
Nestas condições, cumpre-nos lutar contra o comunismo como uma das formas do
capitalismo, pois o seu objetivo não é outro senão substituir a plutocracia
pela burocracia, ambas detendo os meios de produção e escravizando os homens.
Nosso combate ao comunismo não
deve, entretanto, se efetivar por meio de violência de medidas policiais.
Existe um estado psicológico nos comunistas, que deve ser considerado como
expressão de um conceito de vida. É uma enfermidade do espírito. Consequentemente,
devemo-nos esforçar por curá-la, opondo doutrina contra doutrina. Uma ideia só se
combate com outra ideia. Em nome de que a burguesia capitalista pretende
combater o comunismo? Que oferece ela às massas populares, senão compensações
materiais, quando os homens estão desesperados pela ausência do Espírito? Não
existem pobres anticomunistas e ricos comunistas?
O Integralismo vai às raízes
profundas do mal, que se encontram no mundo capitalista, no seu materialismo,
na sua preocupação exclusiva dos lucros, na sua voluptuosa ostentação. Essa
mentalidade de azinhavre é até vanguardeira de nossas relações diplomáticas com
a Rússia Soviética e estipendia organizações comunistas a fim de que propugnem
por um falso nacionalismo, que favorece certos trustes contra outros, em
prejuízo do povo e da nossa nação.
Combater o comunismo sem combater
o capitalismo é ferir apenas uma das faces do problema. Se o comunismo é a
supressão da liberdade e da dignidade humanas, o capitalismo é o caminho que a
ele nos leva. Somente uma concepção espiritualista e cristã da vida pode nos
fazer paladinos na luta contra o monstro de duas cabeças, que se serve de
nossas debilidades dominando um pelas negociatas desmoralizadoras e o outro
pela infiltração nas classes intelectuais, nos partidos e nos governos, como é
notório.
Trecho de Discurso proferido por
Plínio Salgado na Câmara Federal, em Brasília, em 06 de Abril de 1962.
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